A oficialização da bandeira do Itaim Paulista, bairro do extremo da Zona Leste de São Paulo e um dos mais carentes da capital, completou no último final de semana um mês. Mas não deu nem para festejar. A única bandeira oficial que estava disponível para ser hasteada em eventos cívicos no bairro desapareceu misteriosamente, segundo o mentor da iniciativa de criar o símbolo, Expedito Sales Marinho, supervisor de Esportes e Lazer da Subprefeitura do Itaim Paulista. “Não sabemos o que houve com a bandeira. Mas outras quatro já estão sendo produzidas”, disse Marinho.

Marinho e atletas da região que iriam participar dos Jogos da Cidade em 2007 decidiram criar a bandeira em reunião em abril daquele ano. “Nesta reunião, eu perguntei para eles as cores dos times de cada um deles e souberam responder rapidamente. Daí perguntei quais eram as cores do Itaim Paulista. Claro que não sabiam”, contou.

Na ocasião, os participantes do encontro debateram as cores – vermelha e azul com uma faixa branca transversal – a serem utilizadas e a inscrição da bandeira – “Trabalho e Prosperidade”. No centro, foi estampado o rosto de um índio da tribo tupi guarani.

O projeto de lei do vereador Ricardo Teixeira (PV), oficializando a bandeira, foi aprovado pela Câmara Municipal em 24 de abril deste ano. A oficialização definitiva só ocorreu no dia 27 de abril, com a publicação da lei no Diário Oficial do município. A bandeira, contudo, já vinha sendo utilizada nos eventos no bairro desde 2007, mas, curiosamente, desapareceu apenas após a sua oficialização.

Segundo Marinho, o vermelho da bandeira representa o suor e o sangue dos trabalhadores que construíram as rodovia e ferrovia que cortam o bairro, limítrofe com três outros municípios – Guarulhos, Itaquaquecetuba e Ferraz de Vasconcelos. Já o azul representa o céu e “um pouco de esperança”, ressalta Marinho. A faixa branca simboliza a paz. E os dizeres “Trabalho e Prosperidade” remetem a uma inscrição que havia na entrada da sede da subprefeitura, “Trabalho e Renda”, na época. Por último, o índio foi homenagem aos primeiros moradores da região do Itaim, que em tupi guarani significa pedra pequena.

No bairro, o símbolo oficial é pouco conhecido. Apresentamos uma cópia em papel da bandeira a alguns moradores do bairro, que não a reconheceram. Mas quem arriscou o chute, acertou na mosca. “Imaginei que fosse [do Itaim Paulista], por causa do índio. Gostei, sim, me identifiquei com a bandeira”, afirmou o almoxarife Paulo José de Souza, de 35 anos.

O rosto do índio, por outro lado, não agradou à Luíza Yoshie Inoue, de 24 anos. “Eu já tinha visto a bandeira, porque postaram no Facebook. Mas por que tem um índio? Ficou estranho”, disse. O segurança João Miranda, 54 anos, nascido no bairro, também desconhecia o símbolo. “É bom, né?! Cria uma identificação com o bairro”, declarou.

Segundo Marinho, a ideia de criar a bandeira surgiu justamente com o objetivo de “dar uma marca ao bairro”. “Itaim sempre foi muito esquecido e dependia muito de São Miguel Paulista [bairro vizinho]. A bandeira é uma forma de representatividade. Dá até um pouco de orgulho para a gente”, disse.

Marinho prevê tempos melhores para Itaim Paulista, bairro de infraestrutura tão precária que apenas em 2008 recebeu a sua primeira escada rolante, quando os moradores passarem a conhecer melhor a bandeira. “Daí todo mundo vai querer saber o que este símbolo representa e vai ter orgulho em batalhar por melhorias para o bairro”, afirmou.

Além do Itaim Paulista, outros sete bairros da capital têm bandeiras oficiais. São eles: Ipiranga, Vila Prudente, São Mateus, Mooca, São Miguel Paulista, Itaim Bibi e Jaçanã.

Fonte: G1